Roda a saia, menina, e ama
Roda a saia, pequena
E deixa, e sente, e sorri
Aguarda a tormenta passar
E virar brisa suave
Roda a saia menina!
E pula, e grita, e canta
Canta desafinada
Mas segura de si
Do que ama, do que sabe
Do que vive e vibra
Segure-se, baixinha, na ventania
E roda, e anuvia, e aguenta a tormenta
Roda a saia, linda, louca e plena
E suspira, por saber
Que na luta miúda buscamos
O respeito, por mim e por ti
Conquista diária na fala articulada,
No cotidiano suado, sempre
De cabeça erguida, sem subserviência
Eu sei meu lugar. E rodo a saia
E choro o pesar, e celebro o dia
O amar, o viver o dançar.
Danço meu prazer.
Danço minha música
Canto voracidade.
Roda a saia menina
Dança e canta, que amar é mais
E raiva se combate é na minúcia
Na felicidade, destilando alegria
E eu sei meu lugar.
E eu sei que é só o começo do embate
E eu sei dos gritos de ódio, de rancor.
Escuto aqui, ao meu lado, na rua,
Eu sei, eu sinto, eu vejo
E entristeço, todos os dias
Mas sigo, amo e respeito
Todos os dias
E para cada um que duvidar
E para cada um que desafiar
E para cada um que debochar
Meu mais profundo e sincero amor
Desacatado, vadio, insano: amor
Pois eu, meu bem, sigo na luta
Gritando. E meu grito é por mim
Mas é também por ti. Tua raiva
Não passará. Teus brados eu escuto
E deixo a tormenta formar, e anuviar
Até a brisa suave chegar
E instalar a calmaria vinda do embate
E aí? Danço, rodo a saia, canto
Sem nunca cansar