Em tempo: Ser humano?
O que choca não é a mordida de um cão estressado, em meio aos helicópteros, tiros, bombas, gritos, em meio a uma cena de guerra.
O que desestabiliza e nos põe às lágrimas não são depoimentos isolados narrando um tempo de dedicação a um ideal, a um país, a um estado, aos filhos daqueles que batem (e dos que mandam bater).
O que indigna não é o descaso por um futuro e presentes trucidados, por cortes orçamentários de uma vida de trabalho.
O ultrajante não é a falta de vergonha de quem senta em confortáveis cadeiras, votando contra quem os colocou lá naqueles espaços.
O que estarrece não é pagar para ser roubado, para apanhar, para não comer, para adoecer e não ser educado.
O que sangra a alma não é ver navios afundando com gente dentro, por falta de vontade de deixar viver em solo pátrio (ou por medo de multas e prisões se salvarem a “gente” que está dentro).
O que dilacera não é ignorar a agressão a pobres, negros, índios, mulheres, crianças, gays (só por serem pobres, negros, índios, mulheres, crianças, gays) e celebrar mundialmente a escolha do nome real.
A violência está em ver que há conivência pela crença de que isto é um regime democrático, com a liberdade de falas (de todos). A violência é a crença de que existe binarismos simples, existe imparcialidade de comunicação e não somos todos, ao fim e ao cabo, submissos a uma vida que se passa no sofá assistindo à televisão domingo à noite, esperando a segunda-feira começar para o mais do mesmo.
O que choca, desestabiliza, indigna, ultraja, estarrece, violenta, dilacera a carne, a moral, a vida é saber que isso nada mais é do que ser humano.
O que me move é que não sinto isso sozinha e ao nadar contra essa correnteza de ódio e descaso, vejo outros comigo.
(todas as imagens foram retiradas da internet)