Gostar de pessoas e tabus mundanos
Eu escrevi isso escutando Under Pressure. Sugiro que tu, prezade leitore, faça o mesmo.
Às vezes eu acho que gostar de pessoas é um tabu maior que sexo, corpo e outros prazeres mundanos da vida.
Como comportamentos aleatórios viram confusões e silêncios entalados? Ou seriam estes silêncios pensamentos que precisam de tempo para ser compreendidos?
Chipping around, kick my brains around the floor
These are the days it never rains but it pours
Liberar a verborragia desenfreada, em comunicadores instantâneos, ou aguardar presença para respostas compartilhadas, com tom, respiração, pausas?
Falta de ar, de toque, de calma. Velhos fantasmas, novas vivências. Imiscuir impossibilidades voláteis. Eu não gosto da palavra gatilho. Acho que prefiro disparate pensante. Como notas não aleatórias que se entrelaçam, se reconhecem, convidam para um chazinho e ficam ali de fofoquinha edificante – não do bom tipo de edificação – tudo isso, dentro da nossa cabeça, que fervilha.
Tudo por que há vários murinhos morais absolutamente burros em uma sociedade que, sinceramente, já deu.
It’s the terror of knowing
What this world is about
Watching some good friends
Screaming: Let me out
Se por um lado estamos aqui pensando se sim, se não, se talvez, por outro lado definitivamente sabemos que não há categorias suficientes no mundo para estabelecer delimitações em relações com e sem fim. Ao menos sabemos isso de maneira racional, embora saibamos também que não é de racionalidade e frieza que se trata.
Turned away from it all like a blind man
Sat on a fence but it don’t work
Keep coming up with love
But it’s so slashed and torn
Why, why, why?
Love, love, love, love, love
O mundo, enquanto gira, provoca o tempo tornando-se dias e noites – os físicos que me perdoem se a narrativa não se encaixar nos maltrapilhos escritos da minha cabeça – em mirabolantes ideias intermináveis. Ao menos ontem o sono venceu os giros. Ou fiquei tonta, não sei.
Insanity laughs, under pressure we’re breaking
Can’t we give ourselves one more chance
Why can’t we give love that one more chance
Why can’t we give love?
Às vezes o silêncio do lado de fora seja mais suave do que a turbulência do lado de dentro. E no fim, talvez seja só desencontro de tempos e espaços em diálogos mais sinceros e menos – bem menos – silenciosos e precipitados.
‘Cause love’s such an old fashioned word
And love dares you to care for
The people on the edge of the night
And loves dares you to change our way of
Caring about ourselves
Bregas e banais, seguimos rodando, habitantes de um planeta que dá voltas em um astro incandescente como se os pensamentos, diálogos e comportamentos, voláteis que são, estivessem sob controle em pura consonância com a coerência da vida dispersa. Gostar, amar, adorar é um tabu maior que o corpo que gosta, ama, adora.
This is our last dance
This is our last dance
This is ourselves
Under Pressure
Mas eu ouso discordar de Bowie (talvez um erro?). Essa não é nossa última dança, embora sejamos nós, sob pressão. Bregas e banais, como seres que habitam um planeta com problemas maiores que nossa vida mundana.