Sobre Cultura do Estupro: precisamos falar

Publicado por Notas Não Aleatórias em

Cultura: não como o ápice do melhor já feito e produzido pelo ser humano.
Ao falar em “cultura do estupro“, a palavra cultura refere-se aí àquelas práticas cotidianas que não apenas formalizam a violência do estupro em si, mas que possibilitam que esta seja executada cotidianamente e a reforçam como natural de um ser sobre outro.
A cultura do estupro, meus caros, é legitimada por cada assédio e abuso moral, físico, psicológico, sexual entre um ser humano [comumente homens] e outro [comumente mulheres]. E a cada aceitação disso – por mulheres e homens. Ou mais que aceitação: banalização, silenciamento, produção de piadas e compreensão de que este “costume” nos modos de falar e agir do homem como agressor se dá por sua “natureza”, e da mulher como vítima se dá por uma “procura” pela agressão (ou afeição à mesma).
Cultura do estupro é o que faz, cotidianamente, mulheres terem receio de passar por homens na rua – sejam eles quais forem. Não é só o medo de ser violada cotidianamente – é o medo de ouvir, de novo e repetidamente, as mais insanas verborragias sobre nosso corpo e como ele poderia ser usado [repito: cotidianamente] por puro deleite do homem – sem que nosso corpo seja considerado nosso, nossas vontades nossas, nossas ideias de como usarmos NOSSO corpo e nosso prazer.
Cultura do estupro é dizer que vivemos cotidianamente SIM sob égide de um padrão cultural que mesmo frente à evidência tácita de violência, questiona-se o ato e se banaliza o corpo e a alma usurpada. Cultura do estupro é ouvir de alguém, como piada, que é gênio deixar uma mulher bêbada para transar com ela. Cultura do estupro é achar que uma menina com filho é puta e isso justifica dopá-la e transformá-la num túnel. Cultura do estupro é achar que por uma mulher gostar de sexo grupal, 30 homens podem usar o corpo dessa mulher sem seu consentimento. Cultura do estupro é a piada e o escárnio cotidiano. Cultura do estupro é o homem se sentir vítima por nós, mulheres, termos medo de sermos vítimas.

Cultura do estupro é o que vivemos SIM! Não minorize a luta desprezando o que se diz de CULTURA – como aquilo que é “o melhor produzido pelo ser humano”. Cultura é prática, cultura é cotidiano, cultura é o que produz e como produz um país.
Produzimos SIM homens e mulheres que não se solidarizam com a dor de uma violação corporal, produzimos SIM o medo de mulheres frente a homens, produzimos SIM a banalização do corpo da mulher, produzimos SIM a legitimidade do homem usar e abusar, violentando nosso corpo, nossos ouvidos, nossa rotina diária. Não minorize isso.

E homens, por favor, ao invés de assombrar-se com o fato de que você ~não é todo homem que~, assombre-se com o fato de que nós, mulheres ~todas nós~ já sofremos com isso. Assombre-se por fazer parte de um grupo que causa medo e lute contra isso entre teus amigos, familiares, filhos, pai, tios, primos. Pare de se vitimizar e compreenda o que é uma CULTURA que permite que você seja visto assim: todos os dias.

Não são monstros que estupram: são homens, SIM.
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