Tempestade, calmaria e projetos de pesquisa

Publicado por Notas Não Aleatórias em

Ao contrário do dito popular, não é a calmaria que vem depois da tempestade. Talvez tudo seja um grande ciclo em que conseguimos emergir, respirar e nadar para a beira da praia, até que novas tempestades nos atingem e fazem afogar mais um pouco. Até que a suposta calmaria retorne e busquemos espaços seguros, mais uma vez.

E assim sucessivamente, de tentativas de espaços seguros em espaços seguros, vamos construindo sonhos quase tangíveis, nos entrelaçando com possibilidades de suspiros aliviados, abraçando, amando, vivendo pessoas. E quando tudo parece se alinhar, sem brisa suave ou chuviscos que anunciam a mudança do tempo, a tormenta retorna.

E no meio disso, aquela clássica confusão, em que imaginávamos estar livres de rodopios, tonturas velhos-novos problemas que nos afastam de tudo o que vínhamos construindo (de novo e de novo). Por mais calejados que fiquemos, sempre somos pegas de surpresa e acabamos sucumbindo, achando que desta vez, não teremos a força necessária para dar conta. Claro que teremos. Eventualmente teremos suporte e pessoas dispostas a estender a mão para nos ajudar a sair do caos.

E por mais que miremos o horizonte tranquilo e ensaiemos a frase “bom seria se… [insira aqui a tua idealização de paz permanente]”, aparentemente não viemos ao mundo para ter paz. Nosso lugar no mundo (e nosso tempo de habitar) não permite esta sensação por muito tempo.

Há que respirar (falou a asmática, cujos pulmões nunca exerceram esta atividade direito). E seguir.

No meio desse ciclo de caos, mais do que escritos de auto-ajuda (embora nós, para nós mesmos seja necessária uma dose de empatia por si, para dar conta do tranco), me deparei com um ciclo de palestras que me trouxe a tona uma breve calmaria.

Eu sei que o parágrafo anterior pareceu repentino. Mas foi exatamente assim. Enquanto eu chorava por dentro por situações que me atropelaram novamente, escutava supostas críticas a um trabalho absolutamente fundamentado.

Sabe quando os absurdos ouvidos são tão graves e tão tristes que tu és arrancada da tua tristeza, para ver que os problemas do mundo tão se embolando e se agravando? Enfim. Sair de um caos na base da raiva, as vezes ajuda a movimentar.

Em 2025, ainda escutamos racismo e misoginia sendo fundamentados na ciência, enquanto reafirma que a ideologia não pode ter espaço na produção científica. Embora esse discurso não seja recente, vem definitivamente ganhando força e sendo respaldados por pares.

Nesse meio tempo, debates sobre a diversidade vão indo de arrasta, sendo nomeados como ideológicos, enviesados, pós-modernos (risos). Não podemos jamais perder estes acontecimentos de vista. Eu fiquei digerindo esse horror que escutei e tentando situar de que maneira eu posso – simultaneamente – resolver meus problemas pessoais e dar conta da minha pesquisa sobre o tema.

Não achei solução, mas ao menos parei de chorar de desespero (risos). E escrevi um projeto de pesquisa.

Respirei. E segui.

Domingo é um dia insuportável.