Das culpas de ser mulher
Choro por mim, por todos
Que pensam, falam, apontam
Na rua, na vida, na casa
Na rotina: modos de ser
Que culpam, diminuem, invalidam
Sujeitam a mim, a todas
A vestir isso, comer aquilo
Comportar assim, falar assado
Pois és menina, és mulher
Cor-de-rosa, comportada, delicada
Dedicada, é para casar…
Pois lava, passa, limpa, cuida
Ama, apanha, desgosta e cala
És menina? És mulher?
Pois então, desveste a pele
Da culpa, da rotina, da violência
Viva!
Abra e feche
O coração, as pernas, a razão
Quando lhe convier, quando amar, ou quiser
Vive e condene à culpa aos culpados
Liberta, e vive!
E trucida, dilacera, destroça
Com toda a elegância, delicadeza
Garra, fome e vontade
Que só uma mulher
Que anda, por onde quer
Que veste e sabe que é seu direito
Que submete a vontade
Somente a si mesma
Que pensa, diz, grita, ri
GAR-GA-LHA (alto)
É capaz.
Viva e seja feliz!
*Não há como calar frente às pesquisas divulgadas hoje sobre a culpabilização da mulher pelo estupro cotidiano e a permissividade da violência doméstica e sua possibilidade de justificativa em relação ao comportamento do homem. Não há como calar, no peito, nas vísceras… por isso, escrevo ‘esbravejadamente’, numa rabugice sem tamanho, nem vergonha… Não leu nada a respeito? Quer saber mais? Veja nas reportagens (aqui e aqui) o que foi constatado sobre como pensam homens e mulheres sobre estupro, violência doméstica e outras sandices. Veja também este blog que comenta brilhantemente o tema.*
(Quem sou? Essas aí, abaixo. Uma, mil, cada dia uma e nenhuma. Mulher: que pensa, ri, grita, chora, gargalha -e alto. Em uma montagem ego-trip da série: “vivo as inconformidades da vida, mas feliz por isso”)
update: entrando na campanha #eunãomereçoserestuprada